Oldney Lopes

Pensamentos esculpidos em contos, crônicas, mensagens e poemas

Textos


ORFANDADE

Ai, esse fado, esse fardo!
Quantas mães eu tenho a dar-me à luz?
Quantas dão-me ervas, dão-me cruz?
Sinto-me, entretanto, vil, bastardo!
Ai, esse fado, esse fardo!

Ai, essa flexa, essa pecha!
Quais avós disputam-me, atrozes?
Quantas línguas dão-me suas vozes?
Quantas cores tenho, em cada mecha?
Ai, essa flecha, essa pecha!

Ai, essa dança, essa lança!
Quantos atabaques batucar?
Quantos bravos mares navegar?
Pero, vai, camiña, i non alcança...
Ai, essa dança, essa lança!

Ai, esse euro, esse ouro!
Quanto chão eu planto, e o fruto some!
Quanto pão fabrico, e passo fome!
Quanto sou arado, sou laboro!
Ai, esse euro, esse ouro!

Ai, minha mãe ingratérrima,
Ai, minha mãe portugália,
Ai, minha mãe menininha,
Quem me tinha? Quem me tinha? Quem me tinha?

Ai, minha mãe portunhola,
Ai, minha mãe euroásia,
Ai, minha mãe Pindorama,
Quem me ama? Quem me ama? Quem me ama?

Ai, tantas mães que me querem
Ai, madrastas que me ferem

Ai, quero a mãe língua-pátria!

Ai, minha mãe que me usa
Que me manda, que me abusa,
Dá-me a luz,
Dá-me à luz,
Dá-me à lusa!
Oldney Lopes
Enviado por Oldney Lopes em 01/05/2007
Alterado em 11/06/2007


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