RAPSÓDIA PELA DEUSA PRIMAVERA
Julgou ser deus, o poeta, num dia, Sonhou criar sua deusa perfeita Fez o mais lindo rosto na poesia E o mais perfeito corpo em sua eleita Bordou em versos de paixão e sonhos A musa imaginária mais formosa Criou em sua face olhos risonhos E na sua pele a maciez da rosa A fez com tanto esmero e perfeição Fulgurando e perfumando a atmosfera Que deu o poeta à sua criação O nome mais florido: primavera! Mas eis que achando-se, ainda um deus, Tomou a criação por sua amada E descobriu que os sentimentos seus Eram de amor pela deusa engenhada. De repente, era um deus que viu-se escravo Do grande amor à deusa que criou Que, outrora, em veste de guerreiro bravo Diante da própria escrita, fraquejou. Queria tê-la inteira e em pessoa Com tal intensidade a desejava Mas seu anseio, resultando à toa, Jazia na vontade, ao léu ficava. E quando, enfim, adormeceu exausto Sobre o papel, sobre o seu próprio tema, Senhor da criação, excelso, fausto Entrou, em sonho, em seu próprio poema. E lá estava ela, envolta em flores E dentre as flores era a flor mais bela E recendindo aromas e sabores Compunha cores nobres de aquarela Tomou-a nos seus braços, loucamente Cobriu-a com afagos e carícias Amou-a tão febril e intensamente Bebeu da amada todas as delícias No mundo onírico e inebriante Em que viveu a ventura de amar Quis ter eternamente a nova amante: Sendo deus, resolveu não despertar Rasgou com decisão o seu poema Aprisionou-se no sonho em que era Dono da felicidade mais extrema: Ter por amante a deusa primavera! Oldney Lopes© Oldney Lopes
Enviado por Oldney Lopes em 24/09/2009
Alterado em 24/09/2009 |